O organismo humano possui sofisticados mecanismos para garantir a manutenção de sua temperatura, e pleno funcionamento destes, em particular da sudorese, garante a prática de exercícios em ambientes quentes e úmidos. Mas a perda de líquido decorrente dessa transpiração excessiva pode induzir a uma severa desidratação (e consequentemente hipertemia) caso não haja a reposição das perdas.A garantia otimizada de um estado de hidratação, bem como a adequada temperatura corporal, passa por certas medidas que podem ser adotadas antes, durante e depois do exercício. E a base é uma: o consumo de líquidos nos citados intervalos.
"Temos um controle da perda de peso dos atletas, que sugere avaliação importante no que diz respeito à hidratação. É uma forma aguda a partir do momento da atividade, quando eles tiveram aquele estímulo. A partir desse dado em mãos, tomamos a atitude de recuperar a água perdida", explica Mirtes Stancanelli, nutricionista da Ponte Preta.
Dentre as limitações fisiológicas - diminuição do reflexo da sede e da funcionalidade do aparelho gastrointestinal -, as quais impedem que os líquidos sejam ingeridos na mesma velocidade com que são perdidos, a profissional que desenvolveu um estudo sobre a eficiência da suplementação de caldo de cana para a reposição de glicogênio muscular expõe alguns conceitos.
Na avaliação de Mirtes, a reidratação não é tão essencial assim no futebol. Por conta de a perda de cloretos, potássio e sódio serem mínimas, não costuma usar substâncias reidratantes no líquido do plantel. Eis que surge a água de côco, implementada no clube campineiro, a partir de interação entre a nutrição e o departamento médico, preparação física e profissionais da fisiologia.
"Quando a gente dá a água de côco, que tem tudo isso, ela tem muito mais potássio do que sódio, que é o que o atleta perde. Nesse caso, ela é muito interessante e isso é importante para nós", compara. "O que recuperamos é a água. Por isso que a gente hidrata, e não reidrata. A hidratação é com água, mesmo. Quem quiser depois tomar uma água de côco, também oferecemos".
A reidratação profunda tem início programado a partir da perda de 3% do peso inicial do atleta. Antes disso, ficam os benefícios propostos pela água de coco, que é preferência entre os jogadores durante as partidas oficiais porque é mais palatável.
Por serem capazes de repor líquidos, além de fornecer carboidratos e eletrólitos, as bebidas esportivas também aparecem nesta lista. Consideradas superiores à água quanto à manutenção da hidratação e da temperatura, são fabricadas visando dois pontos:
- respeitar as limitações de baixa funcionalidade do aparelho gastrointestinal;
- reduzir os efeitos da diminuição da capacidade de sentir sede (muito por causa de características, como o sabor).
Além da ingestão de líquidos, mudanças comportamentais e a exposição crônica ao calor (aclimatização) são condições que aumentam a tolerância do indivíduo ao estresse do ambiente quente.
"Modelo para o futebol não existe. O que nós tentamos fazer é seguir as recomendações do American College of Sports Medicine (ACSM)", aponta Isabela Guerra, responsável pela nutrição no Palmeiras.
"A desvantagem de um jogador de futebol em relação a outras modalidades é justamente o fato de esse esporte não ter pausas regulares. Então, o jogador que, por um acaso, já inicia o jogo desidratado, fica 'para trás' em relação àquele que se hidratou adequadamente antes do jogo", acrescenta, suportada pelos dados da entidade.
Composta por mais de 20 mil membros nacionais, regionais e internacionais, a associação é dedicada a aprimorar o progresso da medicina esportiva, da ciência do exercício e das profissões ligadas às áreas de saúde e educação física.
Enquanto as bebidas esportivas pretendem acompanhar o mesmo percentual de eletrólise e osmolaridade do plasma sanguíneo, e pelos decretos e vigilância sanitária têm de ter o carboidrato para poder fazer uma absorção mais rápida, a água de coco é muito mais parecida com o plasma - seu uso era frequente em época de guerra, injetada direto na veia, pela sua perfeita capacidade hidratante.
"Já o caldo de cana tem o mesmo balanceamento do sangue. Tem muito pouco potássio e sódio, mas os contém. Fora isso contém a sacarose, um açúcar que dá energia ao músculo e ajuda a manter a glicemia. Aí o atleta tem bastante energia para realizar sua atividade", indica Mirtes, que desde 2001 utiliza o produto apenas após os treinamentos e partidas.
Mais na linha dos energéticos do que dos hidratantes, o caldo de cana carrega cerca de 20 nutrientes para diminuir o estresse metabólico - contém água, açúcar, ferro e minerais. Os índices são calculados de acordo com a média do peso do grupo e é oferecido em sacos plásticos, de forma individualizada.
"É uma forma de recuperar a energia perdida e sabemos por meio de avaliações cientificas que acontece de 80 a 90%. O que diminui muito os índices de problemas relacionados a gripes, resfriados, dores de estiramento, etc.", finaliza a profissional pontepretana.
Bibliografia
AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION; DIETITIANS OF CANADA; AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE - Position of American Dietetic Association, Dietitians of Canada and American College of Sports Medicine: Nutrition and athletic performance. J. Am. Diet. Assoc. v 100, n.12, p. 1543-1556, 2001.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA DO ESPORTE - Diretriz sobre Modificações Dietéticas, Reposição Hídrica, Suplementos Alimentares e Drogas. Comprovação de Ação Ergogênica e Potenciais Riscos para a Saúde. Disponível em: www.gssi.com.br/publicacoes/Artigo/pdf/Artigos_Diretriz_da_SBME.pdf
BERNING, Jacqueline - Mantenha o Motor Funcionando: Combustível antes e depois das Competições.In: Gatorade Sports Science Institute. Disponível em: www.gssi.com.br. Acessado em 17/08/03.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. SVS. - Portaria SVS/MS nº 222. 24 de Março de 1998.','2004-08-22','O hábito de tomar grandes quantidades de água de uma só vez, leva à rápida eliminação pela urina. Veja como garantir a correta hidratação do seu corpo nas diversas situações...'
BACURAU, R.F. Nutrição e suplementação esportiva. 4ª ed. São Paulo: Phorte, 2006.
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